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Sunday, October 31, 2010

Nem tudo o que parece é

Todos nós temos a convicção de sabermos o que é um selo. Com a preponderância do sentido da vista que a cultura greco-latina nos transmitiu, quase não teremos dúvidas em dizer: "basta olhar". Contudo, diz o ditado português que "nem tudo o que luz é ouro" e são muitos os pensadores que nos têm alertado contra os perigos de aceitarmos como verdades o que nos parece evidente.

Para que um bocado de papel, geralmente com a identificação de um país ou região (apenas a Grã-Bretanha está oficialmente isenta de colocar o seu nome dos selos, continuando ainda hoje a usufruir de um privilégio que resulta de ter sido em Inglaterra que o selo nasceu), um valor inscrito (embora hoje haja muitos selos que em vez do valor tenha um símbolo, frequentemente uma letra, que indica em que tipo de cartas podem ser utilizados, mantendo a sua validade apesar das mudanças de tarifas) e algumas outras informações adicionais possa ser considerado como um selo é necessário que tenha validade para franquiar a correspondência, isto é, seja efectivamente um recibo comprovativo do pagamento antecipado de um serviço que se exige a uma instituição (transporte da correspondência e entrega ao seu destinatário). Também o denteado nada prova pois mais não é que uma forma expedita de facilitar o trabalho a quem os vende. Há selos que não são denteados (no início nenhum era, não os são muitos dos vendidos em máquinas ou os já com cola adesiva).

Claro que quando falamos nestes falsos selos não estamos a pensar nos conjuntos de imagens turísticas com aspecto de selos que podemos encontrar nas lojas de vendas de museus, ofícios de turismo ou outros eventos culturais. Desses todos nós temos consciência que mais não são que um produto alusivo ao local, preenchendo as mesmas funções que as fotografias, CD ou cartas de jogar aí vendidos.

Estamos a pensar em produtos que pretendem apresentar-se como selos, mas que efectivamente o não são.

Reparem na Fig. 01. Representa parte de um conjunto que foi vendido por uma empresa filatélica americana como sendo a prova de um selo das Ilhas Bernera, isto é, o resultado de ensaios feitos na tipografia antes de se fazerem as opções definitivas de desenho e cor. A segunda imagem representaria o selo de uma forma acabada, antes de ser colocado o denteado. Um selo de uma região da Escócia, homenageando simultaneamente um escritor e o Ano Internacional da Criança. Mas onde ficam as Ilhas Bernera? São um pequeno conjunto das muitas ilhas que constituem a Escócia. São perfeitamente identificáveis geograficamente. E porque razão várias dessas ilhas emitem selos em vez de utilizarem os selos da Grã-Bretanha? Simplesmente não emitem porque não têm habitantes e correios ou porque se os têm utilizam os correios da Grã-Bretanha e têm de usar os seus selos. De facto trata-se de recordações vendidas aos turistas que visitam essas ilhas ou lançadas no mercado internacional de "selos" como forma de divulgação dessas ilhas.

Uma outra situação muito típica é a emissão de "selos" por governos no exílio ou por movimentos que lutam contra o poder instituído num país. Porque os selos têm uma carga simbólica grande, identificam um Estado, algumas dessas instituições têm recorrido a esse procedimento propagandístico. Refira-se a título de exemplo a emissão de dois conjuntos de quatro selos pela UNITA, movimento liderado pelo recentemente morto Savimbi, que lutava com armas contra o governo de Angola. Para dar autenticidade a estes falsos selos aparecem em algumas casas filatélicas cartas circuladas entre Angola e os EUA utilizando esses selos. Será que esse acontecimento modifica-lhes o estatuto? De forma nenhuma porque essas emissões não são reconhecidas pela União Postal Universal, porque a UNITA não dispunha de serviço de correio institucionalizado e porque não faltam exemplos de cartas que circularam indevidamente (até com bonecos colados a fingir selos).

A fig. 02 representa ainda outra situação. Estamos perante um conjunto de selos, blocos, da República da Guiné, com um valor facial estabelecido. Com um valor e uma referência a um país efectivamente existente tudo leva a crer que se trata de um conjunto de selos verdadeiros. Contudo aparece no "mercado filatélico" como sendo um conjunto de selos não emitidos. O que é que isto significa? Provavelmente uma das duas situações seguintes: tratando-se de um país que encomenda os seus selos a empresas estrangeiras esta fez, por encomenda daquele, a emissão de um selo que por qualquer razão, eventualmente financeira, o país em causa não aceitou; sem qualquer pedido ou autorização do país referido a empresa fez uma emissão de "selos" para inundar com uma raridade o mercado filatélico. Em qualquer das situações aqueles "selos não emitidos" deveriam ter sido destruídos. Trata-se de uma fraude.

São igualmente fraudes os muitos selos referindo-se a países que não existem nem nunca existiram e que visam tão somente enganar coleccionadores. Um caso recente que diz muito aos portugueses e timorenses foi o aparecimento, quando da luta do povo de Timor Leste pela sua independência, de selos do "Emirado Ocussi-Ambeno". Ocussi-Ambeno é uma parte do território de Timor Loro Sae e aí nunca existiu nenhum emirado. Esses "selos", assim como viagens turísticas encomendadas pela Internet, fazem parte de um processo de engano dos desprevenidos, utilizando, quanto sabemos, a tipografia de uma instituição universitária na Nova Zelândia.

Os casos de "selos" que o não são não se limitam as estas situações descritas, mas eles chegam para permitir uma conclusão: cuidado com as aparências (nos selos e na vida). Analisem criticamente o que se apresenta sob os vossos olhos.

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